Em Cartaz (2020)

DALTON PAULA

“Venho pensando muito na coisa da
dignidade. Essa coisa de um olhar digno, olhando de frente, encarando, a coisa da auto estima sabe?
Do desejo...”

Dalton (Brasília, 1982). Pintor, performer e gravador.
Formado bacharel em artes visuais pela Universidade Federal de Goiás (UFG).
Desenvolve pesquisas sobre saberes tradicionais da cultura negra. Com seis exposições individuais, dez coletivas e obras em acervos como o MOMA, MASP, Pinacoteca do Estado de SP, MAR - RJ, MAC - Goiania, Art Institute of Chicago, Institute of Contemporary art - Miami.

Retratos
Óleo e folha de ouro sobre tela
45 x 61 cm
Dalton Paula, 2020

Retrato de Serena por Dalton PaulaRetrato de Itamar por Dalton Paula

Na primeira edição da série de exposições intituladas “Em Cartaz” do MU.ITA, o artista convidado Dalton Paula teve a liberdade de percorrer nosso acervo, que ainda estava em organização. Dalton pôde mergulhar nas variadas imagens de Ita, dos shows, das fotos em família, além de suas explorações poéticas nos cadernos, anotações, músicas e parcerias.

Nosso convite veio pela reverberação da potência que nos atravessou ao contemplar suas pinturas: do queixo pra frente, do olhar altivo e digno.

Como um espelho que reflete a ancestralidade, os cabelos em folha de ouro de Serena e Itamar são parte da representação de dignidade mencionada na poética do artista que, através de sua visão pontiaguda, valoriza a transmissão de saber dos mais velhos aos mais novos, enxergando as referências negras do passado nos rostos das lideranças atuais e existentes em diversos quilombos brasileiros, corpos que levaram à criação dessa série de 24 retratos. Itamar é uma dessas representações. Também é Serena. Mais 2 retratos.

No que diz respeito à materialidade dessas obras, que muitas vezes pode passar despercebida para o público na experiência virtual, há um vinco central nessas composição, uma trincheira no retrato. Na justaposição de duas telas, que cria uma linha no centro do retrato e gera um desconforto visual. Surge uma metáfora do que o artista vivenciou nas visitas aos quilombolas Brasil afora, comunidades negras pobres que empreendem uma luta cotidiana por melhores condições de vida.

Observando a importância central da cabeça na tradição afrobrasileira como um lugar sagrado, capaz de articular o passado, o presente e o futuro, Dalton centraliza essa parte do corpo em sua composição, que ainda revela o contraste da pele negra com o azul leve de fundo, herdado da tradição dos fotopintores sertanejos.

O olhar é o ponto focal dessas pinturas. Para enxergarmos Itamar sob uma nova lente, os famosos óculos ainda estão na composição, mas no bolso da camisa amarela.

Retrato de Serena por Dalton PaulaRetrato de Itamar por Dalton Paula